Genro de tropeiro, autor exalta contribuição cultural de trabalhadores anônimos



Na entrevista abaixo, Jorge Antonio Salem explica como os brasileiros contemporâneos podem aprender com as experiências dos condutores de cargas de séculos atrás

Quando Jorge Antonio Salem decidiu eternizar as lembranças do sogro no livro Memórias de um tropeiro, ele percebeu que os brasileiros contemporâneos tinham muito a aprender com os trabalhadores anônimos responsáveis por explorar as regiões Sul e Sudeste do Brasil nos séculos passados. A resiliência perante momentos turbulentos, a crença de que seu ofício contribui positivamente para a vida das pessoas e a busca por uma existência digna para a família são algumas das características que ele descreveu na obra e dialogam com o contexto socioeconômico do mundo atual.

Na entrevista abaixo, o autor reforça a importância de conhecer o movimento tropeirista e explicita o valor do ofício para as próximas gerações. Leia:

1 – Você escreveu “Memórias de um tropeiro” a partir dos relatos do seu sogro. Como as lembranças dele reforçam a importância da contribuição dos tropeiros para o Brasil?

Jorge Antonio Salem: Assim como os tropeiros do passado distante levavam animais que faziam o transporte de cargas de alimentos para o estado de Minas Gerais, pois o Império proibia essa população de plantar, meu sogro também fazia o transporte de animais para outras regiões. Assim, ele contribuía para o desenvolvimento dessas regiões, fornecendo animais de carga e outros produtos de consumo.

2 – João Boiadeiro era um homem que conhecia diversas regiões do país e citava com riqueza de detalhes alguns lugares por onde passava. Na sua opinião, por que estas memórias devem ser preservadas para a posterioridade?

Jorge Antonio Salem: Hoje, somos pessoas bem formadas pela leitura de livros que foram escritos nos séculos 19 e 20, com histórias inspiradoras. Penso que as experiências vividas pelo João Azevedo e as dificuldades que ele enfrentou durante o transporte de animais para nossas terras podem levar os leitores a refletirem sobre a vida no mundo atual. Não podemos reclamar de qualquer situação um pouco mais difícil, porque é mais fácil viver hoje se compararmos com o passado.

3 – Você acredita que a preservação destas memórias em um livro pode contribuir para a construção de um país que reconhece seu passado? De que maneira?

Jorge Antonio Salem: Todos os livros que contam a história de alguém ou algum lugar levarão os leitores a viverem aquele período histórico. É um prazer poder levar essas histórias aos leitores para fazê-los conhecer uma atividade que pouco ocorre nos dias atuais. No século passado, as viagens dos tropeiros duravam meses, enquanto hoje elas acontecem apenas por alguns quilômetros. Acredito que os leitores, ao verem o amor pela profissão e a luta para cumprir sua missão por parte do João Azevedo, podem ser inspirados a não desistirem do que fazem e a terem a dimensão de como o trabalho deles pode contribuir para um país melhor.

4 – O que os brasileiros de hoje podem aprender com os tropeiros do passado? Qual foi também seu principal aprendizado pessoal?

Jorge Antonio Salem: Muitas de nossas cidades foram fundadas ao longo das estradas que os tropeiros passavam. Por isso, eles deixaram um legado muito grande ao nosso país. Algumas vezes, os tropeiros conheciam alguma jovem e fixavam residência naquele local, logo tornando aquela pequena vila em uma cidade. Esses trabalhadores incansáveis também levavam notícias de muitos lugares para aquelas regiões que tinham dificuldade de acesso a meios de comunicação. Os tropeiros eram unidos, trabalhavam duro e voltavam para seus entes queridos. Esse foi o exemplo que tive na convivência com João Azevedo, que exerceu essa atividade por 30 anos e sempre voltava para sua família.

5 – Qual a mensagem que você pretende transmitir com “Memórias de um tropeiro”?

Jorge Antonio Salem: Uma primeira mensagem do livro Memórias de um tropeiro apresenta o relacionamento do homem com o animal de forma respeitosa, porque os condutores de tropas transportavam os animais de maneira segura e calma. Assim, os trabalhadores tiveram que desenvolver um senso de direção e tranquilidade, para que os animais não se assustassem. Além disso, acredito que a segunda mensagem é mostrar como o país viveu e vive momentos de turbulências, que não se restringe a um período histórico específico. Assim, todos nós devemos aprender a ser tolerantes e resilientes, para atravessarmos situações difíceis de nossas vidas.

6 – Na sua perspectiva, qual foi o papel do tropeirismo para o Brasil, não apenas numa visão macro, mas também para as famílias que garantiam sustento a partir desse trabalho?

Jorge Antonio Salem: Esse emprego ajudou de certa forma a acomodar as pessoas que não conseguiam se manter fixo em uma determinada região e que, por isso, precisavam se mudar com certa frequência. O condutor de tropas ganhou a oportunidade de viajar para diversas regiões e conseguia sustentar sua família, para que todos tivessem uma vida mais dignidade e segura financeiramente. Mas a profissão foi importante também para as pessoas que gostavam de viajar e se sentiam livres nos campos: elas podiam exercer esse ofício alinhadas à vontade delas de conhecer novos lugares.

Sobre o autor: Além de escritor, Jorge Antônio Salem é farmacêutico-fiscal do Conselho Regional de Farmácia do Paraná desde 1996 e mestre em Ciências da Saúde. Ele também publicou a obra 60 anos – Uma história de dedicação ao conhecimento e o livro de poemas Poesias da vida cotidiana. Foi casado por 30 anos com Maura Lúcia Azevedo, filha de João Azevedo, personagens que inspiraram a publicação de Memórias de um tropeiro.

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Maria Clara Menezes
Assessora de imprensa
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